Dobrez  é uma performance sobre dobras, sobre o gesto de guardar, valorizar, embrulhar. As dobras estão lá porque há um gesto que as cria (um gesto deformador, ou criativo, dependendo do ponto de vista); modelam as coisas dando-lhes outra forma, dobrando-as. Permitem a cobertura, o silêncio do olhar. São móveis e facilitadores: de uma dobra surgem novos planos. O envelope que surge após a dobragem aproxima as coisas: vários objectos ou corpos cobertos com o mesmo tecido ou papel, por exemplo, ganham semelhança. Mas o envelope permite-nos sempre intuir a diferença que se esconde por detrás da superfície comum: ao observarmos um envelope intuímos o que está por baixo, ele próprio nos convida a perscrutar, a imaginar, a espreitar. Transmite a tensão do que está semi-oculto: o desejo de saber e, ao mesmo tempo, de manter o mistério. Nesse ponto, onde é possível renovar a relação entre corpos e objectos. Estas observações fazem-me pensar no meu corpo, na pele que é um revestimento, nas suas dobras naturais e no treino de dança que nos permite dobrar de diferentes formas. E na inspiração que os objectos, quando intervencionados, podem trazer ao corpo e à memória, e vice-versa.

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